'Quem é aquele que Nausícaa traz com ela, um estrangeiro
tão alto e bem parecido? Onde o terá ela encontrado?
Será ele o esposo dela? Deverá ser alguém que naufragou,
um estrangeiro de muito longe, já que nós não temos vizinhos.
Ou será antes um deus que tenha descido do céu, em resposta
às suas preces? Ela tê-lo-á como marido todos os seus dias!
Melhor assim, que tenha ido buscar o noivo a outro sítio,
pois já se percebeu que ela liga pouco aos Feaces cá da terra,
embora aqui não lhe faltem muitos e belos pretendentes.'
Odisseia, VI, 276-84.
A Ilíada, primeiro livro da literatura europeia, terá surgido no século VIII a.C., no fim de uma longa tradição épica oral; extraordinário canto de sangue e lágrimas, em que os próprios deuses são feridos e os cavalos do maior herói choram, este poema de guerra em 24 cantos mantém inalterada a sua capacidade esmagadora de comover e perturbar... http://www.livroscotovia.pt/
«Porém Palas Atena foi até à ampla Lacedemónia,
para lembrar ao glorioso filho do magnânimo Ulisses
o retorno do pai e para o incitar a pôr-se a caminho.
"Telémaco, não te fica bem estares longe de casa por mais tempo,
deixando para trás no teu palácio riquezas e homens tão
insolentes, não vão eles dividir e devorar os teus haveres,
ao mesmo tempo que terás feito uma viagem em vão.
Mas pede agora a Menelau, excelente em auxílio, para te pôr
a caminho, para ainda encontrares em casa tua mãe irrepreensível.»
(Odisseia, XV, 1-3; 10-15)
Respondendo-lhe assim falou o astucioso Ulisses:
"Ah, na verdade eu estava prestes a sofrer o triste destino
de Agamémnon, filho do Atreu, no meu palácio,
se tu, ó deusa, me não tivesses tudo dito, pela ordem certa!
Mas agora tece um plano, para que os possa castigar.
E tu fica ao meu lado, inspirando-me abundante coragem,
tal como quando de Tróia despimos o véu fulgente.
Se ao meu lado quisesses ficar, ó deusa de olhos garços,
contigo eu lutaria contra três vezes cem homens,
ó deusa soberana, se me concedesses o teu auxílio."
(Odisseia, XIII, 382-391)
A primeira a falar foi Atena, a deusa de olhos garços:
"Filho de Laertes, criado por Zeus, Ulisses de mil ardis!
Pensa como poderás pôr as mãos nos pretendentes sem vergonha,
que há três anos se assenhorearam do teu palácio,
fazendo a corte à tua mulher e oferecendo presentes.
Sempre em seu coração lamenta que não regresses:
a todos dá esperança e a cada homem manda recados,
mas o seu espírito está voltado para outras coisas."
«Agora mostrar-te-ei esta terra Ítaca, para que acredites.»
«Assim falando, a deusa dispersou o nevoeiro e a terra apareceu.
Alegrou-se de seguida o sofredor e divino Ulisses,
regozijando-se com a sua terra; e beijou o solo dador de cereais.»
(Odisseia, XIII, 344; 352-54)
A ele deu resposta Atena, a deusa de olhos garços:
"No teu peito está sempre algum pensamento:
por isso não consigo deixar-te na tua tristeza,
porque és facundo, arguto e prudente. Com que facilidade
outro homem, regressando depois de ter andado perdido,
se teria precipitado para o palácio, para ver mulher e filhos!
Mas tu não desejas saber nem inquirir, antes de teres
sondado a tua mulher, que tal como dantes permanece
sentada no teu palácio; e lamentosos se lhe definham
os dias e as noites, enquanto derrama lágrimas."
(Odisseia , XIII, 329-38)
"Não: sempre com o pensamento pesado no coração
vagueei, até que os deuses me libertassem da desgraça
( ) não me parece na verdade
que tenha chegado a Ítaca soalheira; mas ando às voltas
noutra terra. ( )
Diz-me se é verdade que cheguei à minha pátria amada"
(Odisseia, XIII, 320-21; 324-26; 328)
«Mas depois ( )
nunca mais te vi, ó filha de Zeus, nem na minha nau te senti
embarcar, para que afastasses para longe o sofrimento.»
(Odisseia, XIII, 316; 318-19)
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