E que queremos nós significar por real? É um conceito que se deve ter originado em nós quando descobrimos que havia um irreal, uma ilusão; quer dizer, quando pela primeira vez nos corrigimos.
Ora a única distinção para a qual este facto logicamente apelava era entre um ens relativo a determinações privadas interiores, e um ens tal como ele se confirmaria no longo prazo.
O real, então, é aquilo a que, mais cedo ou mais tarde, a informação e o raciocínio conduzirão, e que por isso é independente dos meus e dos vossos caprichos. Portanto, a própria origem do conceito de realidade mostra que ele envolve essencialmente a noção de uma COMUNIDADE sem limites definidos e capaz de um aumento definido de conhecimento.»
(C. S. Peirce, Op. cit., p. 55)
As cognições que assim chegam até nós através dessa série infinita de induções e hipóteses (que, embora infinita a parte ante logice, tem, no entanto, como qualquer processo contínuo, um princípio no tempo) são de dois tipos: as verdadeiras e as não verdadeiras, isto é, cognições cujos objectos são reais e aqueles cujos objectos são irreais.
Este primeiro ponto ideal é a coisa-em-si. Ela não existe enquanto tal. Quer dizer, não há coisa nenhuma que seja em-si no sentido de não ser relativa à mente, embora coisas que são relativas à mente possam sem dúvida ser independentes dessa relação.(*)
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(*) Nota 33 — Sendo independente do pensamento, a coisa-em-si é absolutamente incognoscível, pelo que não a podemos determinar seja de que modo for; ela não pode ser tornada um objecto de predicação. Estando completamente fora do conhecimento, é contraditório admitir a existência de uma tal entidade. Na realidade, a coisa-em-si é representada pelo indivíduo dos nominalistas, indivíduo a partir do qual todo o conhecimento começaria. A coisa-em-si é um dos «pontos últimos» e irredutíveis que não são susceptíveis de qualquer mediação.
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