«A questão seguinte é se temos concepções gerais para além das dadas nos juízos.
Na percepção, onde conhecemos uma coisa enquanto existente, é certo que há um juízo de que a coisa existe, uma vez que o mero conceito geral de uma coisa nunca é a cognição da coisa como existente. Contudo, tem-se usualmente afirmado que podemos trazer à mente um qualquer conceito sem por isso produzir um juízo; Mas parece que, nesse caso, supomos arbitrariamente que temos uma experiência. (…) O que passa por associação de imagens é na realidade uma associação de juízos. Diz-se que a associação de ideias procede de acordo com três princípios: semelhança, contiguidade e causalidade. Não pode haver dúvida que qualquer coisa é um signo do que quer que esteja associado com ela por semelhança, por contiguidade ou por causalidade; nem pode haver dúvida de que cada signo apela à coisa significada. Portanto, a associação consiste num juízo ocasionar um outro juízo do qual ele é um signo. Ora, isto não é mais nem menos do que inferência.
( ) O argumento conclusivo contra a realidade das imagens, ou existência na percepção de representações absolutamente determinadas, é que se esse fosse o caso teríamos em cada uma dessas representações os materiais para uma quantidade infinita de cognição consciente de que, no entanto, nunca nos damos conta. ( ) O mais que pode ser dito é que, quando vemos, somos colocados numa condição na qual somos capazes de obter uma quantidade muito grande, e talvez indefinida, de conhecimento acerca das qualidades visíveis dos objectos.»
«( ) que as percepções não são absolutamente determinadas e singulares é óbvio dado o facto de cada sentido ser um mecanismo de abstracção. Por si mesma, a visão apenas nos informa acerca de cores e formas. Ninguém pode pretender que as imagens da visão são determinadas no que se refere, p.e., ao gosto. Elas são portanto gerais: as imagens da visão não são nem doces nem não doces, amargas ou não amargas, saborosas ou insípidas.»
Machuco Rosa comenta (nota 30) que «generalidade é aqui identificada com indeterminação. Uma proposição é indeterminada se o princípio do terceiro excluído não se lhe aplica imediatamente. Ele apenas lhe pode ser aplicado por sucessivas determinações ou especificações». Peirce nega a realidade do «átomo lógico» e o argumento cognitivo contra as «imagens singulares» apoia-se no princípio de continuidade que «desempenha sempre um papel crucial na crítica aos nominalistas».
(C. S. Peirce, Op. cit., p. 49- 53)
Assim sendo, parece seguir-se que nenhum homem tem a verdadeira imagem do caminho para o seu escritório, ou de qualquer outra coisa real. Na verdade, ele não teria de todo uma qualquer imagem desse caminho, a menos que conseguisse não apenas reconhecê-lo mas que também o imaginasse ( ) em todos os seus infinitos detalhes.
( ) [Ora,] é importante lembrar que nós não temos o poder intuitivo para distinguir entre um modo subjectivo de cognição e um outro; ( ), pensamos muitas vezes que uma coisa nos é apresentada como uma imagem quando ela é realmente construída pelo entendimento a partir de pequenos dados. ( )
Vou agora mesmo ao ponto de dizer que não temos quaisquer imagens, nem mesmo na percepção actual. ( ) supor que nós temos uma imagem à nossa frente quando nós vemos é não só uma hipótese que não explica seja o que for como ainda cria dificuldades que requerem novas hipóteses a fim de as explicar completamente.
Os meus links