«Vimos pois que todos os tipos de modificações da consciência — atenção, sensação e entendimento — são uma inferência. Mas pode objectar-se que uma inferência lida apenas com termos gerais e que portanto uma imagem, ou uma representação absolutamente singular, não pode ser inferida.»
Locke nega que a «ideia» de um triângulo tenha de ser ou a de um triângulo obtusângulo, ou a de um triângulo rectângulo, ou a de um triângulo acutângulo. Embora, de facto, a imagem de um triângulo tem de ser a de um em que cada ângulo mede um número certo de graus, minutos e segundos, como defendem Berkeley e quase todos os nominalistas, segundo os quais «apenas as realidades absolutamente determinadas (os singulares) existem na percepção — o que, por sua vez, reenvia a um indivíduo último e dado em absoluto.» (nota 27)
«A atenção desperta quando o mesmo fenómeno se apresenta a si próprio repetidamente em diferentes ocasiões, ou quando o mesmo predicado aparece ligado a diferentes sujeitos. Vemos que A tem um certo carácter, que B tem o mesmo, que C tem o mesmo; isso excita a nossa atenção, de tal modo que dizemos: «Estes têm este carácter.» Portanto, a atenção é um acto de indução; mas é uma indução que não faz aumentar o nosso conhecimento, porque o nosso «estes» não cobre senão as instâncias [exemplificações] daquela experiência. É, em resumo, um argumento por enumeração.»
A atenção produz efeitos sobre o sistema nervoso. Esses efeitos são hábitos, associações nervosas. Um hábito surge quando, tendo tido a sensação de executar um certo acto, m, em diferentes ocasiões, a, b, c, nós passamos a executá-lo em qualquer ocorrência do acontecimento geral l, do qual a, b, c são casos especiais. Isto é, pela cognição de que se qualquer caso de a, b ou c é um caso de m, é determinada a cognição que qualquer caso de l é um caso de m.
Logo, a formação de um hábito é uma indução, estando portanto necessariamente ligada à atenção ou abstracção. As acções voluntárias resultam de sensações produzidas por hábitos, tal como as nossas acções instintivas resultam da nossa natureza originária.»
(Charles Sanders Peirce, Op. cit., p. 48-49)
«Constatamos pois que a atenção produz de facto um efeito muito grande sobre o pensamento subsequente. Em primeiro lugar, afecta fortemente a memória, um pensamento sendo recordado durante um tempo tanto maior quanto maior tiver sido a atenção que originalmente lhe foi prestada. Em segundo lugar, quanto maior a atenção, mais estreita a conexão e mais precisa a sequência lógica do pensamento. Em terceiro lugar, um pensamento que tenha sido esquecido pode ser recuperado pela atenção. Destes factos retiramos que a atenção é o poder pelo qual o pensamento em um momento é ligado e feito relacionar-se com o pensamento em outro momento; Ou, utilizando a concepção do pensamento como um signo, ela é a pura aplicação demonstrativa de um signo-pensamento.»
(Charles Sanders Peirce, Op. cit., p. 48)
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