Um silogismo é ou apodíctico ou provável.
«Um silogismo apodíctico ou dedutivo é aquela cuja validade depende incondicionalmente da relação entre o facto inferido e os factos enunciados nas premissas.»
Já um silogismo «cuja validade dependa parcialmente da não existência de qualquer outro conhecimento é um silogismo provável.» Neste, a questão consiste em
— saber se certos objectos possuem certos caracteres. Se o ignoramos, o silogismo provável configura a questão em «saber se, para além dos objectos que, segundo as premissas, possuem certos caracteres outros também os possuem»;
— ou então consiste em saber se, «para além dos caracteres que, segundo as premissas, pertencem a certos objectos, existem outros caracteres, não necessariamente envolvidos nos anteriores, que pertencem aos mesmos objectos.»
No primeiro caso, o raciocínio procede como se todos os objectos que possuem certos caracteres fossem conhecidos, e isto é indução;
No segundo caso, a inferência procede como se todos os caracteres requeridos para a determinação de um certo objecto ou classe fossem conhecidos, e isto é a hipótese.»
Mas será «um facto que a mente opera pelo processo silogístico?» É duvidoso que uma conclusão «desaloje repentinamente duas premissas que também estavam presentes na mente». Mas é de experiência constante que «se um homem é levado a acreditar nas premissas, ( ) então ele estará também pronto a agir a partir da conclusão e a dizer que ela é verdadeira. Existe pois algo no organismo que é equivalente ao processo silogístico.»
Diz Machuco Rosa: «Segundo o ponto de vista assumido [por Peirce] em 1868, a lógica não possui apenas um conteúdo normativo e ideal. Ela governa também os actos mentais, determina a estrutura geral da acção e encarna-se num animal enquanto realidade neurobiológica.» (n.12)
Ora, a «classe de modificações da consciência» que prioritariamente devemos inquirir — dado que, por hipótese, o conhecimento vem de fora — será a que, de «muito perto», siga os factos externos. Ou seja, tal classe deve ser algum tipo de cognição.
Admitindo, agora, a 2ª proposição — «cada cognição é determinada por cognições prévias, nenhuma havendo que possa tomar-se como a primeira de qualquer objecto» — o que deverá examinar-se é um processo de cognição que «de mais perto» siga os factos externos.
Tal é, o processo de inferência válida o qual «procede da sua premissa A, para a sua conclusão, B, se, de facto, uma proposição como B é sempre ou usualmente verdadeira quando uma proposição como A é verdadeira.»
O processo de inferência válida é, portanto, uma consequência das duas primeiras incapacidades, que estamos a delinear.
Eis a primeira e a segunda das quatro proposições:
«1. Não temos nenhum poder de introspecção; pelo contrário, todo o conhecimento do mundo interno é derivado por raciocínio hipotético a partir do nosso conhecimento de factos externos;
2. Não temos nenhum poder de intuição, pois cada cognição é determinada logicamente por cognições prévias»
Aceitemos a primeira. Isso obrigar-nos-á a pôr de lado quaisquer preconceitos de conhecimento do mundo externo baseado na auto-consciência. Nada devemos asserir sobre o que se passa ‘dentro de nós’, salvo como hipótese necessária para explicar o que acontece no mundo exterior.
Assim, se assumirmos uma faculdade ou modo de acção da mente para explicar o que acontece no mundo externo, então não devemos adoptar qualquer outra hipótese de explicar um facto que possa explicar-se por essa faculdade da mente. «Tanto quanto pudermos, sem usar hipóteses adicionais, devemos reduzir todas as espécies de acção mental a um tipo geral.»
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