“Algumas consequências de quatro incapacidades (1868)”
Peirce demonstra nesta sua conferência Peirce critica certas faculdades
do homem, e profere as suas quatro famosas negações:
1/ Nenhum poder de introspecção;
2/ Nenhum poder de intuição;
3/ Nenhum poder de pensar sem signos;
4/ Nenhum poder de conceber o incognoscível.
Estas quatro proposições não podem assumir-se como certas,
sem serem testadas. Peirce supõe-as hipoteticamente verdadeiras
e delineia as suas consequências.
(continua)
Saíra Santo António do convento
a dar o seu passeio costumado
e a decorar num tom rezado e lento
um cândido sermão sobre o pecado.
E andando andando sempre repetia o seu
o seu divino sermão piedoso e brando
e nem notou que a tarde escurecia
que vinha a noite plácida baixando
E andando andando achou-se num outeiro
com árvores e casas espalhadas
que ficava distante do mosteiro
uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe
e fraco por haver andado tanto
sentou-se a descansar, o bom do monge
com a resignação de quem é santo.
O luar! um luar claríssimo nasceu
e num raio dessa linda claridade
o menino Jesus baixou do céu
e pôs-se a brincar com o capuz do frade
Perto, uma bica d'água sussurrante
juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Um rouxinol ouvia-se distante,
o luar mais alto iluminava mais.
De braço dado para a fonte
vinha um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha
Ele trazia o coração no peito.
Sem suspeitarem que alguém os visse
trocaram beijos ao luar tranquílo.
O menino porém ouviu e disse:
«Ó Frei António, o que foi aquilo?»
O Santo, erguendo a manga do burel
para tapar o noivo e a namorada
mentiu numa voz doce como o mel:
«Não sei que fosse, eu cá não ouvi nada.»
Uma risada límpida, sonora
vibrou em notas de oiro pelo caminho
«Ouviste, Frei António, ouviste agora?»
«Ouvi Senhor, ouvi... ah, eh ... é um passarinho!»
«Tu não estás com a cabeça boa.
Um passarinho! a cantar assim!»
E o pobre Santo António de Lisboa
calou-se embaraçado, mas por fim
corado como as vestes dos cardeais
achou esta saída redentora:
«Se o menino Jesus pergunta mais
faço queixa a sua Mãe, nossa Senhora.»
E voltando-lhe a carinha contra a luz
e contra aquele amor... sem casamento
pegou-lhe ao colo e acrescentou:
«Jesus, são horas... » e abalaram para o convento
I.F., II Parte, x.10 «Eu creio...» esclarece o meu estado de consciência. Desta afirmação é possível tirar conclusões acerca do meu comportamento. Há aqui também uma semelhança com as expressões de emoção, disposição, etc.
I.F., II Parte, x.11 Mas se «creio que é assim» esclarece o meu estado de consciência, então também a afirmação «é assim» esclarece. Porque o símbolo «eu creio» não o pode fazer; só pode, no máximo, sugerir.
I.F., II Parte, x.8 O jogo de linguagem de relatar pode ser aplicado de tal maneira, que o relato não dá à pessoa que o recebe informação sobre o seu conteúdo, mas antes sobre o relator. É essa a situação, por exemplo, quando um professor examina um aluno. ( )
I.F., II Parte, x.6 Posso desconfiar dos meus próprios sentidos, mas não da minha própria crença.
Se houvesse um verbo que significasse «crer falsamente», não teria uma forma com sentido na primeira pessoa
do presente do indicativo.
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