I.F., II Parte, vi.2
Então o que é que objectaríamos a uma pessoa que nos comunicasse que no seu caso, compreender é um processo interior?
— O que é que objectaríamos, se ela dissesse que,
no seu caso, saber jogar xadrez é um processo interior?
— Objectaríamos que nada do que se passa nela nos interessa, quando queremos saber se ela sabe jogar xadrez.
— E se a isto ela nos respondesse que é isso exactamente o que nos interessa, nomeadamente, se ela sabe jogar xadrez, então teríamos que chamar a sua atenção, por um lado, para os critérios que demonstrariam o seu saber e por outro, para os critérios dos «estados interiores».
Mesmo que uma pessoa só tivesse uma capacidade
se, e apenas quando, tivesse uma determinada
sensação, a sensação não seria a capacidade.»
I.F., II Parte, vi.1 Suponhamos que uma pessoa diz:
cada palavra que conhecemos bem, por exemplo,
a palavra de um livro, traz consigo, ao nosso espírito,
uma coroa de fumo à sua volta, o halo das aplicações,
vagamente sugeridas. — Do mesmo modo em que,
num quadro, cada uma das figuras fosse rodeada
de cenas delicadas nebulosamente desenhadas,
como numa outra dimensão e nós víssemos aqui
as figuras em outros contextos.
— Mas então tomemos esta suposição a sério! —
E logo se verá que não serve para explicar a intenção.
Se de facto sucede que as possibilidades de aplicação
de uma palavra nos ocorrem à consciência, semi-audíveis,
ao falarmos, ou ao ouvirmos uma pessoa, então
se isto se passa, é apenas válido para nós.
Mas nós entendemo-nos uns com os outros,
sem saber se eles têm estas vivências.
I.F., II Parte, ii.6 O corpo do homem é a melhor imagem da sua alma.
§ 671 E para que é que aponto com a audição interior? Para o som que me chega aos ouvidos, para o silêncio quando não ouço nada? A audição interior como que procura uma impressão auditiva, e por isso não pode apontar
para ela mas para o lugar onde a procura.
§ 669 Ao falar podemos referir-nos a um objecto, apontando para ele. Apontar é aqui uma parte do jogo de linguagem. E assim parece-nos que se fala de uma sensação quando, ao falar, se dirige a atenção para ela. ( )
§ 666 ( ) Eu concordo com o seguinte: em muitos casos,
a querer dizer corresponde uma direcção da linha de atenção, tal como um olhar, um gesto ou um fechar de olhos a que se poderia chamar um «olhar para dentro».
«Por onde a razão, como uma brisa, nos levar, por aí devemos ir.» (Platão)
§ 664 No uso de uma palavra podia distinguir-se
uma «gramática de superfície» de uma «gramática profunda».
Aquilo que no uso de uma palavra é imediatamente registado por nós é o seu modo de aplicação na construção da frase, por assim dizer a parte do seu uso que se pode captar com o ouvido.
— E agora compara a gramática profunda da palavra «intencionar» com aquilo que a sua gramática de superfície nos deixaria conjecturar. Não é de admirar que se ache difícil saber-se onde se está.
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