A felicidade confunde o presente e o futuro, o estar e o tornar-se.
É uma atitude interior em que coexiste uma alegria difundindo-se
sobre toda a realidade do instante com um dinamismo
que impele para um porvir desejado; é, pois,
simultaneamente,
um encanto e uma esperança.
(Op.cit., p.55)
Em questões éticas, seria talvez necessário completar as duas noções
tradicionais de bem e de mal acrescentando-lhes a noção de "indecidível".
Gödel demonstrou, com efeito, que, em lógica, uma afirmação só pode
ser provada no quadro referencial de uma doutrina mais larga;
a procura de uma prova definitiva só tem fim quando se admite
como absolutamente verdadeira uma palavra inicial. (...)
devemos aceitar, em lógica como em moral,
que uma posição indecidível tenha o seu lugar.
(Op.cit., p. 53)
Agir desencadeia uma série de consequências.
Aquele que age comporta-se como ser responsável
quando assume pessoalmente o peso dessas consequências.
( ) Mas também é verdade que é impossível prever
o conjunto de acontecimentos que serão provocados
sucessivamente por [um] acto. "Eu não quis isso", dizem,
e muitas vezes com razão, os que, por falta de lucidez,
provocaram catástrofes. Mas o crime que cometeram
reside precisamente no facto de lhes ter faltado lucidez.
(Op. cit., p. 50)
as ocorrências se dão segundo uma certa ordem. ( )
Toda e qualquer medida [do] tempo consiste, unicamente,
em contar o número de ocorrências de um dado tipo ( ).
Pode ( ) medir-se a duração de um dia expressando-a pelo
número de batidas de um pêndulo, ou a duração dessas batidas
pelo número de vibrações de um cristal..
Convencionou-se, assim, que um dia tem a duração de 86 400 segundos e
que um segundo dura tanto como 9 192 631 770 períodos de um fenómeno de transição provocado num átomo de césio.
Estas convenções permitem medir durações em função de outras durações; mas são omissas relativamente à característica medida. ( )
a física quântica ( ) [postula] que nenhuma duração pode ser menor do que 5,4 * 10^-4 segundos, ou seja, "o tempo de Planck".
(Op. cit., p. 43)
«E quando um dia eu estava a falar a sós com a minha brava Sabedoria,
disse-me ela, colérica: "Tu queres, tu desejas, tu amas, e
é só por isso que tu louvas a Vida!"»
-- Não dispenso a redundância :) --
Com o comprimento e a massa, o tempo é uma das três dimensões
que permitem definir todas as restantes grandezas que intervêm nos
modelos matemáticos do mundo real.
Nesse contexto, é definido pela medida que fazemos dele.
Mas essa medida não é absoluta; segundo a relatividade, depende
do movimento do observador e da presença de massas no espaço:
tempo e espaço são indissociáveis, formam um todo, o espaço-tempo.
( )
O tempo não existe antes dos acontecimentos.
Pelo contrário, é gerado por eles.
( )
as quatro dimensões que nos permitem referenciar um acontecimento
não podem ser repartidas em três mais uma ( )
Se ( ) se pretende descrever o mesmo acontecimento em referenciais distintos,
é necessário tomar as quatro dimensões como um todo indissociável, o "espaço-tempo".
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(Albert Jacquard, com a participação de Huguette Planès,
Pequeno manual de filosofia para uso dos não-filósofos,
Terramar, Lisboa, 1997 p. 44; 45; 46)
maravilhar-me-ia com os poderes de um átomo de carbono,
se eu fosse um átomo de carbono,
maravilhar-me-ia ... e assim por diante.
Ora este só se pode maravilhar com
o único objecto mais complexo do que ele,
com o único objecto que dispõe de mais poderes:
a comunidade humana.
que só me é dada por pertencer a essa comunidade,
eu participo no impulso cósmico que tudo impele para a complexidade.
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Entre os poderes que recebeu o cérebro,
conta-se o mais decisivo de todos eles, a saber,
a criação da comunicação entre os homens,
a que nós chamámos o "discurso".
Foi então que cada um de nós pôde tomar-se a si próprio
como objecto do seu próprio discurso, ou seja,
desenvolver a sua consciência de existente.
Mas esse discurso só podia existir numa rede de troca e de partilha.
Essa rede colectiva é, assim, o ponto de partida da consciência individual.
O que gosto de resumir com a fórmula ( ):
"Eu digo eu porque outros me disseram tu."
O espírito é pura e simplesmente o ponto de chegada da aventura da matéria.
Não tem origem senão o conjunto do cosmos.
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( ) a consciência pessoal só viceja se se enraizar numa consciência colectiva;
porque a minha consciência é o caminho percorrido na companhia das outras consciências.
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Qualquer ser humano pode focalizar sobre si mesmo este olhar criador de objectos.
Ao focalizar-se, ele já não é só um existente,
mas alguém que sabe que existe,
alguém que transforma a sua pessoa em objecto do seu discurso.
É isso a consciência. Uma experiência que nos permite saber-nos existentes.
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O que houve, ao longo da evolução do cosmos, foi pura e simplesmente
uma continuidade na aparição de poderes sempre crescentes
das estruturas materiais que se foram formando,
poderes esses relacionados com a complexidade dessas mesmas estruturas.
Esse processo foi continuado até ao aparecimento do campeão da complexidade
que é o cérebro humano.
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