Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004
...

room_sea.jpg

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente

Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

(sophia de mello breyner andresen)



publicado por vbm às 12:47
link do post | comentar | ver comentários (10) | favorito

Segunda-feira, 27 de Setembro de 2004
Have a nice day # 15

Origem do conhecimento. — Durante longos séculos, o intelecto nunca engendrou mais do que erros; alguns mostravam-se úteis à conservação da espécie: quem os encontrava ( ) lutava com mais felicidade por si e pela sua descendência. Esses artigos de fé errados, transmitidos hereditariamente através de gerações, acabaram por se tornar numa espécie de ( ) fundo humano: admite-se, por exemplo, que há coisas que são iguais, que existem objectos, matérias e corpos, que uma coisa é o que parece ser, que a nossa vontade é livre, que aquilo que é bom para um é bom em si. Só muito tardiamente é que apareceram pessoas que negaram ou puseram em dúvida este género de proposições, só muito tardiamente surgiu a verdade, esta forma menos eficaz das formas de conhecimento. ( ) A partir de então a fé, a convicção, deixaram de ser as únicas forças, mas também o exame, a negação, a contradição; todos os «maus» instintos foram subordinados ao conhecimento e postos ao seu serviço; ( ) O conhecimento, a partir de então, tornou-se uma parte da própria vida, e, tal como a vida, uma força que foi crescendo sem detença; ( ) O pensador: eis agora o ser no qual a necessidade da verdade e os erros antigos que mantêm a vida, se dão o seu primeiro combate desde que a necessidade da verdade se afirmou também como uma força que conserva a vida. Dada a importância desta luta tudo o mais é indiferente: ela enuncia a última pergunta sobre a condição da vida, e faz a primeira tentativa para lhe responder com a experiência. Até que ponto a verdade suporta a assimilação? tal é esta pergunta, tal é esta experiência.

 

                                                               (Gaia Ciência, Livro III, § 110)


tags:

publicado por vbm às 00:34
link do post | comentar | favorito

Sábado, 18 de Setembro de 2004
Have a nice day # 14

Defendamo-nos. — Defendamo-nos de pensar que o mundo seja um ser vivo. Como se desenvolveria? De que se alimentaria? Como poderia crescer e multiplicar-se?  ( ) Defendamo-nos até de pensar que o universo seja uma máquina; não foi certamente construído para um objectivo ( ). Defendamo-nos de supor por toda a parte a existência a priori de uma coisa tão bem definida como o movimento cíclico das constelações próximas da Terra; um olhar para a Via Láctea basta já para fazer nascer dúvidas ( ). A ordem astral em que vivemos é uma coisa excepcional; esta ordem  e a medíocre duração que determina tornaram possível por sua vez esta excepção das excepções: a formação do orgânico. Mas o carácter do mundo é pelo contrário o de um caos eterno, não pelo facto de ausência de necessidade, mas pelo de uma ausência de ordem ( ). Ora como poderemos permitir-nos censurar ou louvar o universo! Defendamo-nos de lhe censurar uma falta de coração ou de razão, ou o contrário destas coisas: não é nem perfeito, nem belo, nem nobre, e não quer transformar-se em nada disso; não procura de forma alguma imitar o homem! Não é tocado por nenhum dos nossos juízos estéticos e morais! Não possui instinto de conservação, não possui qualquer instinto e ignora toda a espécie de lei. Defendamo-nos de dizer que eles existem na natureza. Essa só conhece necessidades: nela não há ninguém que ordene, ninguém que obedeça, ninguém que infrinja. Quando souberdes que não há fins, sabereis igualmente que não há acaso: porque é únicamente sob o olhar de um mundo de fins que a palavra «acaso» toma um sentido. Defendamo-nos de dizer que a morte é o contrário da vida. A vida não passa de uma variedade de morte, e uma variedade muito rara. ( ) Mas quando acabaremos com os nossos cuidados e as nossas precauções? Quando deixaremos de ser obscurecidos por todas estas sombras de Deus? Quando teremos completamente «desdivinizado» a natureza?


 


                                                               (Gaia Ciência, Livro III, § 109)


 



publicado por vbm às 11:47
link do post | comentar | ver comentários (15) | favorito

Quinta-feira, 16 de Setembro de 2004
Have a nice day # 13

O nosso novo «infinito». — Até aonde vai o carácter perspectivo da existência? possui ela mesmo outro carácter? uma existência sem explicação, sem «razão» não se torna precisamente uma «irrizão»? e, por outro lado, não é qualquer existência essencialmente «explicativa»? é isso que não podem decidir, como seria necessário, as análises mais zelosas do intelecto, as mais pacientes e minuciosas introspecções: porque o espírito do homem, no decurso destas análises, não se pode impedir de se ver conforme a sua própria perspectiva e só pode ver de acordo com ela. Só podemos ver com os nossos olhos; é uma curiosidade sem esperança de êxito procurar saber que outras espécies de intelecto e de perspectivas podem existir; ( ) Espero contudo que estejamos hoje longe da ridícula pretensão de decretar que o nosso cantinho é o único de onde se tem o direito de possuir uma perspectiva. Muito pelo contrário o mundo, para nós, voltou a tornar-se infinito, no sentido em que não lhe podemos recusar a possibilidade de se prestar a uma infinidade de interpretações.

 

                                                           (Gaia Ciência, Livro V, § 374)


tags:

publicado por vbm às 01:21
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Segunda-feira, 13 de Setembro de 2004
Have a nice day # 12

No horizonte do infinito. — Deixamos a terra, subimos a bordo! Destruímos a ponte atrás de nós, melhor destruímos a terra atrás de nós. E agora, barquinho, toma cuidado! Dos teus lados está o oceano; é verdade que nem sempre brame; a sua toalha estende-se às vezes como seda e ouro, um sonho de bondade. Mas, virão as horas em que reconhecerás que ele é infinito e que não existe nada que seja mais terrível do que o infinito. Ah! pobre pássaro, que te sentias livre e que esbarras agora com as grades desta gaiola! Desgraçado de ti se fores dominado pela nostalgia da terra, como se lá em baixo tivesse havido mais liberdade,... agora que deixou de haver «terra»!

 

                                                           (Gaia Ciência, Livro III, § 124)


tags:

publicado por vbm às 00:45
link do post | comentar | ver comentários (24) | favorito

Sexta-feira, 10 de Setembro de 2004
Have a nice day # 11

SINGRANDO  PARA  OS  MARES  NOVOS

É lá abaixo que quero ir: e de ora em diante creio
                                                           em mim
E nos meus talentos de piloto.
O mar abre-se para mim, no azul
Me leva o meu barco genovês.

Tudo cintila para mim com um esplendor novo,
Meio-Dia repousa no espaço e no tempo...
Só o teu olhar, formidavelmente,
Me fita, ó infinidade!

     (Tradução de Alfredo Margarido)

PARA  NOVOS  MARES

 Para lá - quero eu ir; e em mim
 E nos meus pulsos confio.
 Aberto o mar, para o azul
 Vara de Génova o meu navio.

 Tudo novo e mais novo aos olhos brilha,
 Por sobre Espaço e Tempo o Meio-Dia dorme -:
 Só o teu olhar, ó Infinidade!,
Olha pra mim, enorme!

   (Tradução de Paulo Quintela)

NACH  NEUEN  MEEREN

Dorthin - will ich; und ich traue
Mir fortan und meinem Griff.
Offen liegt das Meer, ins Blaue
Treibt mein Genueser Schiff.

Alles glänzt mir neu und neuer.
Mittag schläft auf Raun und Zeit -:
Nur dein Auge - ungeheuer
Blickt michs an, Unendlickeit!

    (Poema de Nietzsche)


tags:

publicado por vbm às 15:58
link do post | comentar | ver comentários (8) | favorito

Quarta-feira, 8 de Setembro de 2004
...

scosta.jpg

Ninguém é senhor da luz detida num olhar ( )

(Eugénio de Andrade, Branco no branco, XII)



publicado por vbm às 12:52
link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Domingo, 5 de Setembro de 2004
Have a nice day # 10

Sempre em nossa casa. — Um dia, tendo alcançado o nosso fim, só com orgulho falaremos das longas peregrinações que fomos obrigados a fazer. Mas na realidade, não nos tínhamos apercebido da viagem. Se chegámos tão longe foi precisamente porque em todos os lugares nos parecia estarmos em nossa casa.

 

                                                           (Gaia Ciência, Livro III, § 253)


tags:

publicado por vbm às 12:38
link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

Quinta-feira, 2 de Setembro de 2004
Have a nice day # 9

Mais vale dever. — «Mais vale dever do que pagar com uma moeda que não traz a nossa efígie!» assim o quer a nossa soberania.

 

                                                         (Gaia Ciência, Livro III, § 252)


tags:

publicado por vbm às 12:19
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Setembro 2015
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
16
17
19

20
21
22
23
24
25
26

27
28
29
30


posts recentes

...

...

Pascal & Espinosa # 2

Pascal & Espinosa # 1

...

Espinosa # 55

Espinosa # 54

Espinosa # 53

Espinosa # 52

Espinosa # 51

...

Espinosa # 50

Espinosa # 49

Espinosa # 48

Espinosa # 47

Espinosa # 46

...

A Caverna de Platão

Wittgenstein: Philosophic...

Ayer on Frege and Russell

arquivos

Setembro 2015

Fevereiro 2010

Novembro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

Fevereiro 2004

Janeiro 2004

Dezembro 2003

Novembro 2003

tags

albert jacquard

ana de sousa

ana hatherly

ar rosa

astronomia

ayer

davidson

deleuze

dostoiévski

espinosa

eugénio de andrade

fiama

fotografia

françois miterrand

frege

gerard de constanze

gonzalo torriente ballester

hobbes

homero

hume

imagens

jl borges

khalil gibran

kripke

leibniz

maquiavel

nietzsche

pascal & espinosa

paul auster

paul valéry

peirce

philo-vídeos

platão

política

putnam

quine

rawls

russell

samuel beckett

sandra costa

scarlett johansson

searle

sophia de mello breyner

villaret

virgínia woolf

wittgenstein

todas as tags

favoritos

...

links
Míope, logo táctil. Gosto de ler e conversar, q.b. «Nada convem mais ao homem do que o seu semelhante.» Vasco
blogs SAPO
subscrever feeds