Nenhum gesto nenhuma palavra podem modificar o mundo
no seu contínuo movimento que as ignora e absorve
Não é possível desprender um objecto
da inércia do seu centro ou do seu fundo
Mas o que nos faz mover é o desejo de atrair
um pouco a terra para nós
e o medo de perdermos o solo
e de desaparecer ao mais pequeno movimento
Se houvesse lugar para uma boca
ela poderia respirar ao ritmo da água
mas se a entreabrimos logo a matéria do mundo
a enche com a sua irrevogável urgência
António Ramos Rosa, As Palavras,
Campo das Letras, Porto, 2001, pp. 181
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